Jesus olhava para longe



     É evidente que Jesus olhou para longe ao escolher seus auxiliares. Olhando lá da altitude divina, pôde ver neles aquilo que eles e seus companheiros não podiam enxergar. Olhava suas possibilidades futuras, e não meramente suas presentes qualificações. Por exemplo, viu naquele Simão impulsivo, radicalista e vacilante um caráter forte, corajoso e vigoroso, e por isso lhe deu o nome de Pedro (pedra). Semelhantemente, viu naquele João muito jovem e descaridoso ("filho do trovão") um caráter bem mais amoroso e compreensivo, e mesmo "o discípulo amado". Jesus podia descobrir num fariseu cheio de orgulho ou numa mulher de má vida possibilidades que ninguém enxergava. Afirma Bruce Barton: "O povo via Zaqueu apenas um judeuzinho desonesto: Jesus viu nele uni homem de generosidade incomum... Assim se deu também com Mateus: todos viam nele nada mais que um desprezível coletor de impostos, mas Jesus viu nele o potencial escritor dum livro que viveria para sempre."

     Assim como o pintor vê seu futuro quadro na tela ainda em branco, assim como o escultor enxerga já a futura estátua no mármore bruto, o Mestre via em cada discípulo a personalidade útil e extraordinária que seria no porvir, e por isso trabalhava com otimismo e paciência na realização do seu plano. "Parece que Jesus nunca perdeu a esperança no lidar com os homens. Sempre ele esperava qualquer coisa dos piores e dos mais fracos deles."
     Jesus também olhou para longe, quando se lançou à obra de criar caracteres fortes, sabendo que de fato é preciso bastante para firmar ideais para consolidar e para desenvolver hábitos nobilitantes. Disse Maltbie D.Baboock: "Bons hábitos não se formam no dia em que nascemos, e nem se cria o caráter cristão no dia do Ano Bom". A visão pode revelar-se, o sonho pode alertar e o coração com nova inspiração pode galgar o topo da montanha; mas a prova e o triunfo estão no sopé do monte, ao nível da planície. O cogumelo cresce numa noite, mas o carvalho precisa de uma década para desenvolver-se. Este fato aparece claro na parábola da semente lançada à terra, a qual brota, e se desenvolve da erva até o grão grado na espiga (Mar. 4:28). Também está claro na exortação a Pedro, de alimentar seus cordeirinhos e fazer deles ovelhas (João 21:15-17).
    Jesus sabia que o Reino de Deus não viria por meio de campanhas turbilhonantes e nem por ocasiões grandemente trabalhadas, mas pelo processo seguro de ensino e treinamento "preceito após preceito — regra após regra". Somente assim cristãos imaturos atingiriam a estatura completa do homem cristão. Este olhar para longe deu a Cristo firmeza e constância. "Assim, quando se via bloqueado numa direção, Jesus paciente e serenamente se voltava para outra. Quando, cercado por todos os lados, não lhe restou outra coisa senão morrer, Jesus o fez doce e confiantemente, como quando alimentava as multidões junto ao mar"; Jesus sempre estava certo dos resultados.
     O olhar para longe, no que respeita às possibilidades de nossos alunos e à tarefa de criar neles o caráter cristão por certo muito nos ajudará a conjurar todo e qualquer pessimismo. Não faremos nunca como fez o pai de Woodrow Wilson, que disse: "Receio que meu filho Woodrow não chegue a ser grande coisa." Nem agiremos como aquele evangelista que, ao término do reavivamento em que se converteram George Truett e outros mais, sentia que a reunião havia falhado em muito, porque poucos adultos tinham sido ganhos para Cristo. Nem agiremos como aqueles líderes eclesiásticos que hesitaram em admitir Dwight L. Moody como membro de sua igreja.
     Ao contrário, enxergaremos as infinitas possibilidades de cada aluno. De modo semelhante, encararemos nosso ensino não como uma obra pesada e incômoda  e. sim, como uma gloriosa oportunidade — o meio humano mais eficiente para se criar e desenvolver o caráter cristão. Veremos, então, com Von Humboldt, que aquilo que desejamos ter cm a nossa civilização de amanhã deve hoje ser em nossas escolas, e, com Roberto Wells Veach, que o progresso social é uma cruzada de mestres-escolas. Veremos daí, que "o professor é, na realidade, o guardião dos portais do amanhã".

Extraído do Livro: A Pedagogia de Jesus, de J.M.Price

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